sábado, 3 de janeiro de 2009

Interferências


Lenta demais – o abraço do vento frio em minha garganta fragilizada que evita as palavras porque estas poderiam e eu não quero nem quis nem pretendo. A troca – em minha mente sugestionável imagens de imersões em águas quentes e perfumadas se alternam ao desolamento de uma dor de cabeça por querer demais. Mas não quero nem quis nem pretendo expor minhas divagações – eu quero a umidade nos espelhos de um banheiro trancado durante um banho muito quente. Quero morangos. Morangos e silêncios translúcidos. É possível ouvir gente falando ou gritando da rua quando estamos no meu quarto – e às vezes o telefone do quarto toca enquanto estou dormindo e acaba por me acordar. Eu acharia melhor se as pessoas cantassem ou sussurrassem ou falassem baixinho ou nem falassem – poderiam dizer coisas com os olhos, as mãos, a postura, os braços cruzados ou ao redor de alguém ou soltos ao longo do próprio corpo. Emails também são uma forma de falar. Mas há uma voz muito doce de se ouvir que acordava certos sentidos submersos – e essa voz pouco falava. Gosto muito de escrever emails mas muitas vezes preciso me recolher – há períodos em que escrevo muito, outros em que fujo do computador. E há coisas que eu não gostaria de responder. Ou simplesmente não tenho ainda uma noção precisa do que eu penso – porque sob cada pensamento se esconde uma camada de imagens não muito nítidas e há muitas e muitas camadas, algumas um pouco etéreas ou vaporizadas e outras sólidas mas sujeitas às erosões da natureza, a minha natureza, tua natureza, naturezas alheias ou natureza de cada circunstância.

Lenta demais é minha aproximação de uma melhora. Ou talvez eu seja apressada demais e não saiba esperar o tempo necessário – é que sempre considero desnecessário esperar. Nenhuma das vozes ao meu redor diz nada que realmente importe e eu estou com frio. Troco emails sobre filmes. Ouço ruídos da rua interferindo no que eu ia te dizer, escolho uma música e fecho as janelas.

Liz Christine

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